Utentes da via

Não se encontra disponível e actualizado estudo algum que aborde directamente o trânsito urbano na cidade de Maputo, caracterizando convenientemente o fluxo das pessoas e dos veículos que se movimentam na cidade.

No entanto, o estudo de António Matos (2003), exclusivamente sobre os utentes dos transportes públicos, permite no entanto tirar importantes conclusões.

Esse estudo revelou que 47% dos passageiros que utilizam os transportes colectivos fazem-no para acederem ao seu local trabalho, 29% para irem à escola, 9% deslocam-se devido aos seus negócios e os restantes 15% viajam por outros motivos. O estudo também provou que 62% dos passageiros permanecem o dia todo no seu destino, 32% uma manhã ou uma tarde e 6% apenas permanecem no destino menos de três horas.

Com base nestes números, é seguro concluir que as deslocações dentro de Maputo, pelo menos para os utentes dos transportes colectivos, são essencialmente do tipo pendular, com longos períodos de permanência no destino, e o motivo da viagem é o acesso ao posto de trabalho ou ao estabelecimento de ensino.

Em relação aos restantes utilizadores da via, está somente disponível a evolução do parque automóvel da cidade. Entre 2001 e 2008 houve um crescimento médio de 11,1% do número de veículos registados, sendo que em 2008 perfaziam um total de 290.607 veículos. Este valor refere-se ao número de novos licenciamentos, sendo pouco claro se incorpora o número de veículos que deixou de circular na cidade.

Não se encontram igualmente discriminados o número de veículos de cada categoria. Sabe-se no entanto, para cada categoria, o número de novos carros recenseados. Extrapolando os valores de 2005, 2006 e 2008, estima-se que 61,3% sejam veículos ligeiros, 21,7% veículos pesados, 12,3% motos e 4,7% tractores e reboques.

Com base na população actual de Maputo e de Matola, é possível estimar o número total de deslocamentos diários. Para uma população de 1,7 milhões de habitantes e considerando uma taxa de mobilidade de 0,35 (deslocamentos por habitante), um número considerado razoável por comparação com outras cidades do mesmo porte, calcula-se que diariamente se realizem cerca de 600 mil viagens na AMM. Por seu lado, a empresa transportadora pública TPM estima que o número de viagens diárias sejam perto de um milhão de deslocações diárias (Maquique, 2010).

Corredores Principais

O acesso à cidade faz-se essencialmente através das estradas nacionais, da EN 1 para o trânsito com origem ou destino a norte da cidade e da EN 2 para os veículos provenientes da Matola. Em alternativa à EN 2, é possível utilizar a Via do Jardim ou então, localizada mais a norte, a rua da Zona Verde. Para o acesso a norte não existem alternativas.

Figura 1 - Principais corredores da cidade de Maputo.

 

Na cidade de Maputo, podem-se encontrar três corredores de trânsito principais, onde se faz o transporte de pessoas dos espaços suburbano, peri-urbano e inter-provincial, para o centro urbano da cidade. Esses três corredores estão ilustrados na Figura 5 a cor-de-laranja e são constituídos pelas seguintes avenidas: - 24 de Julho – EN 2, proveniente da Matola;

-  24 de Julho/Eduardo Mondlane – EN 1, com origem ou destino a norte da cidade;

-  Av. Guerra Popular – Av. Acordos de Lusaka – Av. das FPLM – Av. Julius Nyerere, procedente do Distrito 4 da cidade.

Na Figura 5, estão também representados, a vermelho, as vias alternativas aos corredores enunciados. Em alternativa à EN 2, é possível entrar na Matola, utilizando a Rua do Jardim ou então, localizada mais a norte, a rua da 5.578 (Zona verde). A Avenida Vladimir Lenine e a Rua da Beira servem de opção a troços do corredor do Distrito 4, enquanto a EN 1 tem por única alternativa contorno do aeroporto pelo lado leste (corredor do Distrito n.º 4) para alcançar a EN 1 através da Avenida Lurdes Mutola.


Horas de ponta

As horas de maior tráfego são de manhã entre as 6h30 e as 8h30, com o pico às 6h45 (Matos, 2003), e de tarde o período com maior intensidade de trânsito é entre as 17h30 e as 19h30.

A Tabela 7 indica, para as horas de ponta, o número máximo de passageiros das vias mais movimentadas de Maputo. Mais uma, vez estes números referem-se exclusivamente aos utentes dos transportes colectivos, sendo que os dados reportam ao ano de 2003 (Matos, 2003). Desde essa altura, é credível que o número tenha aumentado com o aumento da população. A Avenida Eduardo Mondlane e a EN 1 são as vias mais utilizadas, o que fica a dever-se à falta de alternativas a este corredor.

 

Tabela 7 - Fluxo de passageiros por hora (Matos, 2003).

Via

Máx. Passag.

 

(por hora)

 

Av. Guerra Popular

4080

Av. FPLM

3980

 

Av. 24 de Julho

 

 

4320

 

Av. Julius Nyerere (de Xiquelene a Magoanine)

4140

Av. Moçambique (EN 1, da Junta a Malhazine)

4740

 

Rua Irmãos Roby (Xipamanine)

 

 

1360

 

Av. Eduardo Mondlane

4990

Pontos críticos de congestionamento

A cidade de Maputo apresenta já alguns problemas graves de congestionamento nas horas de trânsito mais intenso. Essas zonas encontram-se bem localizadas e foram situadas no mapa da Figura 2.

Figura 2 - Principais vias utilizadas e pontos de congestionamento.

 

-                      Benfica – O entroncamento de Benfica, da EN 1 com a rua da Zona Verde, é o ponto mais sensível da cidade, sendo o resultado de diversos factores. Para começar, a EN 1 é uma via com um nível máximo de serviço inferior ao desejado, visto ter apenas uma faixa de rodagem em cada sentido. Neste entroncamento, o problema agudiza-se, não só pelo cruzamento de trânsito de diferentes direcções, mas também porque este é um ponto de paragem dos minibus. Esta zona é sem dúvida o ponto mais crítico da cidade de Maputo, representando uma constante preocupação para quem quer sair de Maputo rumo ao norte.

-                      Portagem – a portagem da EN 2 é também um ponto problemático, não devido à falta de postos de pagamento, que são 16, oito em cada sentido, mas porque depois da portagem essas oito faixas afunilam para apenas duas. O congestionamento na portagem dá-se, nas horas de ponta da manhã, no acesso à cidade, e de tarde no sentido inverso.

-                      Centro da Cidade – As Avenidas 24 de Julho, Eduardo Mondlane e Guerra Popular apresentam já problemas de congestionamento dentro do Distrito 1, principalmente por serem utilizadas de forma intensiva pelos mini-bus de transporte de passageiros. Ao longo da Avenida 24 de Julho existem dois lugares problemáticos: um nas imediações da Praça 16 de Junho, por aí se localizar um mercado; e outro no espaço antes do cruzamento com a Avenida da Guerra Popular, local de enorme confluência de “chapas”. Os problemas das Avenidas Eduardo Mondlane e Guerra Popular devem-se unicamente à circulação de elevado número de “chapas” nestas vias, embora o facto de cada uma delas ter quatro faixas de rodagem em cada sentido permita escoar de forma razoável o tráfego.

-                      Praça dos Combatentes (Xiquelene) – O acesso à Praça dos Combatentes é difícil devido à existência na própria rotunda de uma movimentada bomba de gasolina, assim como a do importante mercado de Xiquelene. Esta rotunda é ponto quase obrigatório para a vasta maioria do trânsito que circula a leste do aeroporto, havendo como única opção alternativa, a rua da Beira. Apesar de tudo, o ponto mais crítico até nem é a rotunda em si, mas antes o acesso a ela, principalmente através da Avenida Vladimir Lenine. Esta avenida, entre as Praças OMM (Organização da Mulher Moçambicana) e dos Combatentes (3,3 km), tem apenas uma faixa de rodagem por cada sentido, e sempre que um veículo de transporte, autocarro ou “chapa”, precisa de largar passageiros, este bloqueia todo o trânsito atrás de si.

-                      Rua do Jardim – esta última zona é sensível pelo mau estado de conservação da via, que obriga os veículos a circularem a reduzida velocidade. A Rua do Jardim representa porém uma

-                      alternativa à portagem, tanto a nível de escoamento de trânsito, como para os condutores que querem evitar o pagamento do imposto de utilização da EN 2. Assim, esta via torna-se também, em horas de ponta, num ponto de engarrafamento.

A localização de todos os pontos de congestionamento mostra que o acesso ou a saída da cidade se faz com bastante dificuldade. E isto não acontece exclusivamente nos períodos de ponta. Nos períodos restantes, mesmo que de forma mais fluida, o trânsito circula ainda com resistência, principalmente em Benfica, Jardim e Vladimir Lenine.

O melhoramento das condições de circulação pode acontecer através da limitação do número de “chapas” nas vias principais, os quais devido à sua reduzida lotação e ao seu comportamento na estrada, se tornam uma forma de transporte pouco eficiente, do ponto de vista da fluidez do tráfego rodoviário. Mas a longo prazo, com o aumento da posse de veículos próprios, será igualmente necessário um melhoramento profundo das infra-estruturas rodoviárias, surgindo a EN 1 no topo das zonas prioritárias.

 



[1] Ministério dos Transportes e Comunicações de Moçambique, Instituto Nacional de Viação. Disponível em: , consultado a 7 de Maio de 2010.

[2] António Matos, conversa com o autor, Maputo, Moçambique, 28 de Junho de 2010.